As pesquisas sobre óleos essenciais e seus efeitos iniciaram no século XX. 

Mesmo, a aromaterapia, sendo uma prática secular, os estudos sobre a terapia com óleos essenciais se iniciaram com René Maurice Gatefossé.

Um olhar clínico e científico. 

Em sua obra, RM Gatefossé, O pai da a aromaterapia moderna, deixou registrado um conteúdo detalhado sobre os óleos essenciais e terpenos: 

“Os óleos essenciais contêm constituintes que possuem quase toda a gama de funções químicas. Os mais simples são os hidrocarbonetos, constituindo a família dos terpenos, do tipo p -cimeno, C 10 H 14, que é semelhante ao pineno, constituinte do óleo de terebintina. Os outros constituintes quase todos podem ser classificados como vários estágios no desenvolvimento do terpeno” Gattefossé R.‑M. Aromaterapia de Gattefossé. CW Daniell Co., Ltd.; Essex, Inglaterra: 1993.

Óleos essenciais podem afetar as condições fisiológicas e psicológicas e são administrados, comumente, por três vias: 

   ⇒ Sistema olfatório, pele e sistema gastrointestinal.  

O objetivo do uso é importante, pois, é necessário compreender a relação do paciente com os aromas indicados e porque, para cada via de administração de óleos essenciais há um efeito. 

A pesquisa aponta que tecidos não olfativos ou não localizados no sistema olfatório, possuem receptores olfativos, como é o caso da pele e do sistema gastrointestinal. 

Esta pesquisa de 2020 traz análises dessas rotas de administração de óleos essenciais e os efeitos em cada um desses sistemas e em níveis celulares. 

Sendo a aromaterapia, uma prática aromática que busca cuidar da saúde física, mental e da beleza, ao usar um óleo essencial é importante definir os objetivos com o uso. 

Ao inalar, todo o processo se iniciará no sistema olfatório e também atingirá a pele. 

A aplicação na pele, por sua vez, atingirá o sistema olfatório com menor intensidade. 

A ingestão de um óleo essencial iniciará o processo da prática aromática via sistema gastrointestinal e por sua vez atingirá o sistema olfatório de maneira secundária através da boca e do estômago. 

O óleo essencial de lavanda (lavandula angustifolia) é um bom exemplo, pois contém dois famosos terpenos:

  • O linalol: com grande potencial ansiolítico, quando inalado. Afinal, deve atuar no sistema nervoso, através do sistema olfatório.
  • O β-cariofileno: conhecido por seu potencial cicatrizante. Para isso, deve ser aplicado topicamente, com diluição apropriada. E entenda, nesse caso, o sistema olfatório será estimulado em segundo plano, logo, o leve efeito ansiolitico.

“É fundamental determinar o tipo de impacto que cada composto químico gera, quais rotas estão envolvidas nesse impacto e os mecanismos de ação.’’ 

Cada terpeno ativa uma região do sistema olfatório. 

Estudos comprovam que os aromas afetam o comportamento e condições fisiológicas através dos receptores olfativos. Além do que, o sistema endócrino e neuroendócrino estão envolvidos na regulação da aprendizagem olfativa e do sentido olfativo. 

Experiências com terpenos como o 1,8 cineol, carvona e limoneno demostram que eles podem atuar em regiões variadas do sistema olfatório. 

Indicando que áreas podem ser ativadas para o aprendizado ou no momento de medo, por exemplo. E que alguns receptores podem ser ativados por uma gama mais ampla de compostos químicos sem relação estrutural relacionada entre eles ou por pequenos grupos de compostos químicos semelhantes. 

Sugerindo que o sistema olfatório possui múltiplas funções, que ocorrem tanto no epitélio olfativo quanto no bulbo olfativo. A exemplo disso, estão relacionadas as múltiplas funções: o Humor x Aprendizagem, condição homeostática.

Um odor, também, pode ativar o bulbo olfativo e não o epitélio olfativo e vice-versa.

Quanto a sensibilidade, este estudo relaciona desde as características dos odores, sua natureza, ambiente e concentração, a umidade e a característica hidrofóbica ou não, fluxo de ar (vento). Também aponta que a experiência sensorial é afetada pelo número de neurônios olfativos que detectam o odor específico. Sim, existem receptores específicos para cada tipo de molécula odorífera. Além, claro, das condições fisiológicas indicam que neuromoduladores ou hormônios afetam a capacidade olfativa e intensidade. 

 Lembrando que as experiências individuais são de suma importância para determinar o tipo de aroma. A aromaterapia é um tratamento gentil e acolhedor. Há uma relação entre aromas e vivências do indivíduo, até de gerações passadas. 

Os resultados da aromaterapia dependem de uma análise profunda do perfil psicossomático do paciente, compreensão do objetivo do tratamento e escolha adequada da via de administração. 

Há muitos estudos que demonstram os benefícios da inalação dos óleos essenciais, bem como a variedade de impacto conforme o óleo ou óleos essenciais escolhidos. Pois, nessa prática aromática é possível afetar o humor, a concentração para atividades rotineiras e a duração do efeito varia conforme os constituintes do óleo essencial. 

A época da colheita, o tipo de extração, acondicionamento, o quimiotipo e geotipo também irão interferir nos resultados da aromaterapia. 

Por isso, aqui no blog você encontra estudos sobre os terpenos e as famílias botânicas. É importante saber o que o óleo essencial traz em sua composição para resultados extraordinários. 

Os efeitos dos óleos essenciais e seus terpenos podem ocorrer através de receptores olfativos que estão localizados fora do sistema olfatório. 

Por exemplo: 

Coração, pele, rim, intestino, vísceras, espermatozoide e testículos… 

Isso não significa que o coração sente cheiro, isso significa que estes receptores olfativos estão envolvidos em reações químicas como: 
  • Quimiotaxia 
  • Ajuste da pressão arterial 
  • Estimulação da secreção de hormônios  
  • Enzimas. 

 

A pele possui alguns tipos de receptores olfativos com diferentes localizações e atividade variada. Contudo, todos eles estimulam de forma semelhante a proliferação celular e a migração celular quando são ativados por ligantes aromáticos, encontrados nos óleos essenciais. 

A pesquisa cita: 

  • Síntese de melanina- propriedade para tratar distúrbios de pigmentação e distúrbios de células pigmentares como melanoma. 
  • Crescimento e longevidade do cabelo 
  • Estimulação da citocinese 
  • Migração celular 

 

Vale um destaque para a atuação do β-cariofileno nessa pesquisa, pois é o componente majoritário do óleo essencial de copaíba, presente em vários óleos essenciais. Seu potencial cicatrizante é notório. Foi pesquisado o efeito cicatrizante deste terpeno isolado e ficou comprovada esta impressionante propriedade. Porém, os estudos não comprovaram que ele é ligante dos receptores olfativos da pele, sua atividade pode ocorrer devido a sua atuação no receptor endocanabinoide CB2. 

Esses estudos sugerem que a aplicação de β-cariofileno melhora a reepitelização através do aumento da conversão de células-tronco do folículo piloso em células-tronco multipotentes e estimulando sua migração para a epiderme basal e, a partir daí, para a ferida. 

O que demonstra potencial para regeneração total da pele, logo, cicatrização. 

A pesquisa alega que, no caso de René-Maurice Gattefossé, a cicatrização das feridas decorrentes da queimadura não deixando cicatrizes terríveis, foi graças ao β-cariofileno.  

O trato digestivo possui epitélio diferente da pele. Sendo o epitélio intestinal uma barreira que fornece imunidade entre o ambiente interno e externo e ainda apresenta função de absorção de nutrientes. O epitélio do intestino possui uma monocamada com diferentes tipos de células na mesma superfície. 

Para interessados sobre as aplicações adequadas de óleos essenciais, a pesquisa apresenta benefícios do óleo essencial de laranja, rico em limoneno, linalol e citral aumentam a microbiota intestinal- especialmente lactobacilos. Isso graças ao Limoneno.

O intestino possui um receptor olfativo específico para o limoneno e está presente, em algumas células, tanto no intestino delgado como no intestino grosso. Importa, aqui, ressaltar que a atividade dos óleos essenciais no intestino estimula a secreção de hormônios da saciedade, regulando a homeostase.  E mais, favorecendo a regulação da pressão arterial. 

Dois terpenos citados na pesquisa são o Geraniol e o citrolnelal, que estimulam a secreção de pepitideo 1 . 

Isso não é tudo sobre o geraniol, no presente estudo. O geraniol, não ingerido, mas administrado intraperitoneal, possui poder analgésico análogo a morfina. Porém, se ingerido não apresentará o mesmo efeito. 

Os efeitos dos óleos essenciais e terpenos através de receptores não olfativos

Os aromas naturais dos óleos essenciais não ativam apenas os receptores olfativos. Estudos demonstraram que uma gavagem  de β-cariofileno ativou o CB2 e a aplicação tópica regularizou os canais de potencial transitório. O β-cariofileno ativa pelo menos 3 receptores olfativos e Canais de potencial transitório e CB2. Não é só ele. Outros fitoquímicos ativam os canais e receptores. Dessa maneira, os estudos apontam a possibilidade de que múltiplos canais possam estar envolvidos na mediação dos efeitos dos óleos essenciais. 

A pele é o maior órgão do corpo e tem como função primordial formar uma barreira física, protegendo os outros órgãos. O tecido do intestino por sua vez possui estrutura diferente da pele e do epitélio olfativo. 

Em se tratando da pele e seu funcionamento, o estrato córneo é a parte mais externa e que possui atividade protetora contra invasões. Sua principal característica é ser seletivo. Permite que apenas pequenas partículas lipofílicas passem. 

A partir deste raciocínio surge uma hipótese de que podem existir diferenças na acessibilidade aos receptores, dependendo da permeabilidade dos produtos químicos. 

Muitos estudos existem nesse sentido e encontraram vários métodos para aumentar a permeabilidade da pele para tratamentos transdérmicos. 

E, atenção, o que é usado para aumentar a permeabilidade da pele: 

  • Ácidos graxos– encontrados nos óleos vegetais- são chamados carreadores na aromaterapia. 
  • Álcoois graxos 
  • Álcoois  
  • Glicóis 
  • Terpenos- os menores são melhores. 

Estudos recentes apontam para eucalipto- pelo 1,8 cineol, que aumenta a permeabilidade da pele em até cem vezes, e ylan-ylang  como intensificadores da permeabilidade química para fluororacil, medicamento para tratar câncer. 

Dessa forma, indica que óleos essenciais além de permear a pele podem ser usados para melhorar a administração de medicamentos. 

Impacto psicológico e fisiológico dos óleos essenciais 

  

 Efeitos 
Psicológicos 

Fisiológicos 

Ansiolíticos 

 Melhora a cicatrização de feridas 

Supressão da depressão  Analgésico 
Anti-agitação  Antinociceptivo 
Relaxante  Antifúngico 
Efeitos antiestresse  Anti-inflamatório 
supressão da ansiedade  Antioxidante 
  Anestésico local 
  Sedativo 
  Anestésico sistêmico 
  Efeitos anticonvulsivantes 

 

A pesquisa, apresenta vários óleos essenciais e seus impactos conforme o método de aplicação de óleos essenciais. 

E o impacto em humano através da inalação foi: 

Óleo essencial Ylang-Ylang- Cananga Odorata 

 

Efeitos  

        Psicológicos 

Fisiológicos 

Nível de excitação diminuído  Antimicrobiano 
Eficaz no tratamento de depressão  Antibiofilme 
Eficaz no tratamento pressão alta  Anti-inflamatório 
Eficaz no tratamento ansiedade Repelente de insetos 
  Anti-fertilidade 
  Antidiabético 
  Anti-melanogênese. 

 

Óleo essencial de lavanda – lavandula angustifolia: 

Inalação

 

Efeitos 

Psicológicos

Fisiológicos 

Diminuição da função cognitiva

supressão da dor

Diminuição do nível de excitação
Inibiu a ligação de TBPS ao receptor GABA-A de rato
Efeito ansiolítico não através do sistema GABA
Anosmia não prejudica o efeito ansiolítico
Agitação reduzida
Comportamento físico não agressivo em idosos com demência

 

Óleo essencial Camomila- Matricaria camomila- consumo de capsulas 

 

Efeitos 

    Psicológicos 

              Fisiológicos 

Supressão da ansiedade 

Efeito anti-inflamatório 

Efeito ansiolítico 

Efeito antimutagênico 

 

Efeito redutor de colesterol 

 

Anti-espasmódico 

   

Óleo essencial Melissa- Melissa officinalis, L.-Erva cidreira 

Inalação 

Efeitos 

    Psicológicos 

            Fisiológicos 

Anti-agitação;  antimicrobiano 

 

Óleo essencial Hortelã-pimenta- Mentha x piperita 

Inalação; Ingestão de cápsulas  

Efeitos 

 Psicológicos 

  Fisiológicos 

Aumento do nível de excitação 

Mostrou menos fadiga para tarefas cognitivamente exigentes 

Antioxidante 

Apresentou maior função cognitiva 

 

Estes são alguns resultados de pesquisas sobre o impacto dos óleos essenciais através da análise das vias de administração. 

Pois, há diferença de resultados conforme a via de administração. 

A pesquisa defende o estudo particular de cada constituinte do óleo essencial. 

Mas, nesse ponto, abrimos uma ressalva, pois não podemos desprezar o efeito comitiva, que ocasiona efeitos peculiares e potentes de cada planta e seu óleo essencial. 

Muitos constituintes dos óleos essenciais produzem efeitos similares e outros produzem efeito oposto, e dependendo da via de administração também alcançarão resultados diversos. Isso, segundo a pesquisa, é devido ao tipo de receptor ativado pelo óleo essencial ou seus constituintes. 

A parte da planta destilada  deve ser observada, pois em cada parte ocorre uma quantidade variável dos componentes dos óleos essenciais. 

 Em nosso texto do blog: Efeitos sensoriais dos óleos essenciais você pode conferir os resultados de avalições com eletroencefalograma e como atuam no humor, alterando o estado de alerta ou relaxamento e outros efeitos. 

Diante desta pesquisa, podemos refletir sobre o potencial terapêutico e as vias de administração dos óleos essenciais. E também, a importância  da consulta com uma aromaterapeuta para garantir os efeitos extraordinários com o uso adequado dessas substâncias aromáticas naturais para cuidar da saúde e beleza. 

Seja protagonista da sua aromaterapia.

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Isabela Palmer - Aromatologista e Psicanalista

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